Mt. 18: 12-14
O fato de encontrarmos um objeto que tínhamos perdido enche-nos de grande alegria a cada vez que isso ocorre. E essa alegria é maior do que a que experimentávamos antes de o perder, quando aquele objeto estava bem guardado. Mas a parábola da ovelha perdida fala mais da ternura de Deus do que da maneira como os homens habitualmente se comportam. Ela exprime uma verdade profunda: abandonar o que tem importância por amor do que há de mais humilde é próprio do poder divino, não da cobiça humana, porque Deus faz mesmo existir o que não é. Ele parte à procura do que está perdido, guardando o que deixou ficar para trás, e encontra o que se tinha transviado sem perder o que está à Sua guarda.
É por isso que este Pastor não é da terra, mas do céu. A parábola não é de forma alguma a representação de obras humanas, mas esconde mistérios divinos, como é demonstrado.
Cabalmente pelos números que menciona: “Se um de vós, diz o Senhor, tiver cem ovelhas e perder uma”. Como vê, a perda de uma só ovelha magoou o pastor, tanto como se o rebanho inteiro, privado da sua proteção, se tivesse metido por um caminho errado. É por isso que, deixando as outras noventa e nove, ele parte à procura de uma só – não se ocupa senão de uma só – a fim de encontrá-la e, nela, salvar a todas.
“Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha que estava perdida”. Quando chegou o tempo da misericórdia (cf. Sl 101,15), o Bom Pastor desceu de junto do Pai, tal como tinha sido prometido desde toda a eternidade. Veio procurar a única ovelha que se tinha perdido. Prometido a ela [ovelha] desde sempre, por causa dela foi enviado no tempo. Por ela nasceu e se entregou eternamente predestinado a ela. Ela é única, separada dos judeus e dos gentios, presente em todos os povos. É única no seu mistério, múltipla nas pessoas, múltipla pela carne segundo a natureza, única pelo espírito segundo a graça – numa palavra, uma única ovelha e uma multidão incontável. Portanto, poderíamos assim dizer que, no homem, Deus salva toda a criação.
Ora, aqueles que o Pastor reconhece como seus, “ninguém pode arrancá-los das suas mãos” (cf. Jo 10,28). Porque não se pode forçar a verdadeira potência, enganar a sabedoria, destruir a caridade. Por isso, Ele fala com segurança ao dizer: “Dos que me deste, Pai, não perdi um único” (Jo 18,9).
Ele foi enviado como verdade aos violentados, como estrada aos perdidos, como vida para os que estavam mortos, como sabedoria para os insensatos, como remédio aos doentes, como resgate para os cativos, como alimento aos que morriam de fome. Para todos esses, pode-se dizer que Ele foi enviado “às ovelhas perdidas da casa de Israel” (cf. Mt 15,24), para que elas não se percam para sempre. Foi enviado como alma para um corpo inerte, para que à Sua vinda os membros se reanimassem e revivessem com uma vida nova, sobrenatural e divina: é a primeira ressurreição (cf. Ap 20,5). Por isso, pode Ele mesmo declarar: “Vai chegar a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e os que a tiverem ouvido viverão” (Jo 5,25). E pode, portanto, dizer das Suas ovelhas: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (cf Jo 10,27).
Como aquela ovelha, ergamos, pois as nossas mãos e deixemo-nos levantar, abraçar e colocar nos ombros do Bom Pastor para sermos salvos.
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