domingo, 26 de fevereiro de 2012

1 Domingo da Quarema

1 – Aliados de Deus Nossa Quaresma começa com vários convites. O primeiro deles encontra-se na 1ª leitura, quando Deus propõe fazer aliança com a humanidade depois do dilúvio. Uma aliança que, entre outras coisas, tem como proposta a recriação da terra, com uma nova humanidade que viva de acordo com o projeto divino. Esse projeto é aquele que ouvimos Jesus proclamando como Reino de Deus, através do acolhimento do Evangelho. É por isso que a Igreja, com o salmista, suplica a graça de conhecer os caminhos de Deus, de andar pelos caminhos de Deus. A Quaresma, aliás, é um convite constante para se caminhar nos caminhos de Deus, nos caminhos do Evangelho, como ouvíamos de Jesus. Mas, voltemos ao início de nossa reflexão para sublinhar, uma vez mais, que Deus nos convida a fazer aliança com ele. Isso significa que Deus nos convida a sermos seus aliados. Aliado é alguém que comunga das mesmas idéias, do mesmo projeto, da mesma proposta de vida. 2 – Batismo, início da Aliança Nós sabemos, no entanto, que só podemos ser aliados de quem é igual a nós, de quem pensa como nós. Como, então, podemos ser aliados de Deus? Sim, podemos estar do lado de Deus porque fomos criados à imagem e semelhança de Deus e é isso que nos possibilita ser alguém capaz de fazer aliança com Deus e de ser um aliado de Deus. São Pedro, na 2ª leitura, lembrava que isso tem início no Batismo. No dia de nosso Batismo, portanto, nós nos tornamos aliados de Deus; nos colocamos ao lado de Deus e Deus se colocou de nosso lado para, juntos, refazer toda a criação. Desde o dia que nos tornamos aliados de Deus, o projeto do Reino tornou-se também nosso projeto. Não apenas pedimos em nossas orações que o mundo viva em paz, mas trabalhamos ao lado de Deus, para que a paz aconteça. Não apenas queremos que as pessoas vivam na fraternidade, mas estamos ao lado de Deus para que a fraternidade se torne realidade. Em outras palavras, nós assumimos como nosso o projeto divino. 3 – A importância da conversão A partir desse pensamento, entendemos a importância da conversão. Se quisermos ser aliados de Deus, precisamos pensar como Deus, ter a mentalidade de Deus. E isso acontece através de um processo, que chamamos de conversão. A conversão não é um fato isolado, uma decisão que tomamos de uma hora para outra, mas é um processo, que acontece aos poucos; pouco a pouco vai mudando a mentalidade, o modo de pensar, o modo de agir da gente. O modo para que isso aconteça, diz Jesus, é crer no Evangelho. Não apenas conhecer, não apenas ler, não apenas ouvir... mas crer. Confiar que o Evangelho não é uma teoria de Jesus, mas um projeto de vida de quem quer viver como aliado de Deus. A conversão não é um processo fácil e pode durar muitos anos num panorama de deserto, de local desabitado, sem caminhos e com muitas interrogações. Outro elemento que sempre estará presente nesse processo de conversão é a tentação. A tentação da dúvida, da incerteza, da impossibilidade de, em muitas ocasiões, não ter evidências. Quem se coloca num processo de conversão vive num deserto com anjos e demônios. Não faltará a consolação divina e nem tampouco faltarão as ameaças de quem chamará isso tudo de bobagem, de besteira... e proporá outros caminhos mais de acordo com as oportunidades de cada tempo. 4 – O projeto divino e a Campanha da Fraternidade Quanto as oportunidades de cada tempo, a mentalidade social, desse tempo de neo-liberalismo, aconselha a aproveitar o momento para lucrar mais. O projeto divino não visa lucros financeiros, mas a vida digna da pessoa humana, o bem-estar, a saúde da pessoa, como sugere a Campanha da Fraternidade desse ano. Nós vivemos na pele o interesse pelo lucro na preparação da Copa do Mundo aqui no Brasil. Quanto dinheiro e, o mais interessante, é que não falta dinheiro... quanta corrupção antes mesmo de começar os trabalhos mais avançados em vista da Copa. Para isso tem dinheiro porque o objetivo é o lucro. Que nossa gente, em especial os mais pobres, morram em corredores e nas portas de hospitais isso não importa e nem tem dinheiro. Por mais que gostemos de futebol, convenhamos que a vida humana vale bem mais que um campeonato esportivo. Se somos aliados de Deus, podemos torcer pelo Brasil na Copa de 2014, mas não concordamos, em absoluto, com a gastança que se faz enquanto a saúde pública é um caos. Esse é o apelo da conversão social, que a Igreja lança através da Campanha da Fraternidade. A sociedade é chamada a ser aliada de Deus para que todos possam gozar de saúde e serem atendidos em suas doenças. Amém!

domingo, 29 de janeiro de 2012

Homilia do 4º Domingo Comum

1 – A missão de Jesus e sua identidade
Jesus entra na sinagoga e lá encontra um homem com um espírito do mal, que agride ferozmente Jesus, anunciando a sua identidade: “sei que és: és o Santo de Deus”. Jesus manda que se cale porque não precisa que o mal revele sua identidade, demonstrando desse modo que ele não veio ao mundo para ser exorcista — embora exerça essa atividade em muitas ocasiões — mas para ser presença da bondade divina no meio do mundo. Esse é um elemento muito importante, porque destaca a identidade de Jesus, não tanto como exorcista, mas como Mestre. “Ele ensina como quem tem autoridade”, dizia o povo. Ele tem um ensinamento que merece ser ouvido, seguido e vivenciado. Um ensinamento que liberta as pessoas do mal e das impurezas, capaz de calar o mal que fala e contamina a vida humana.

2 – Tomados pela impureza
Ouvimos no Evangelho que Jesus entra na sinagoga, um local onde os judeus se reúnem para ouvir a Palavra de Deus. Naquele local, onde a Palavra de Deus é proclamada e ouvida, havia um homem tomado pelo mal. Alguns estudiosos da Bíblia dizem que a melhor tradução deveria ser: “um homem contaminado pela impureza”. É um pequeno detalhe que ajuda a considerar nossas reações diante de Jesus, diante da proposta do Evangelho. Tantas vezes vivemos em contato com o Evangelho, com a Palavra de Deus... da mesma forma que aquele homem da sinagoga, um local onde a Palavra de Deus era anunciada, mas essa continuava sem efeito nele porque estava contaminado pela impureza. É um assunto muito sério, porque a impureza nos impede de acolher a Palavra de Deus em nós e nos impede de reagir e de pensar com a mesma mentalidade divina. A impureza na vida humana, especialmente a impureza espiritual, é um impedimento para se aproximar de Deus, para conseguir compreender Deus.



3 – As fontes da impureza
Muitas são as fontes da impureza, que impedem aproximar-nos de Deus, acolher em nós o Evangelho e crescer na espiritualidade. Existem muitos textos bíblicos que alertam para essa realidade da contaminação com a impureza do mundo que produz distanciamento das coisas de Deus. Quanto mais alguém dá atenção aos convites do mundo, mais distante de Deus essa pessoa se torna. Embora muitos de nós sequer tenhamos visto neve, podemos comparar a contaminação com a mentalidade do mundo a uma boa de neve. Começa pequena no alto da montanha e, à medida que vai descendo, aumenta seu volume e sua velocidade, tornando-se impossível de ser parada; só pára quando se esfacela e se reduz ao nada. É isso que causa o envolvimento com aquilo que provoca impureza na vida da pessoa. Começa simples, pequeno, com desculpas que posso controlar o que estou fazendo e, num dado momento, está rolando montanha abaixo, cada vez crescendo mais a ponto de um dia se esfacelar no nada. Conhecemos muitas pessoas que vivem esse processo de queda livre na impureza e no afastamento contínuo de Deus. Não adianta conselho, não adianta tentar abrir os olhos para mostrar o fim que o espera; nada adianta. Ao contrário, como o homem da sinagoga, quando se procura ajudar e propor Deus, reage ferozmente e agride, chamando isso tudo de besteira. Infelizmente, essa é a realidade de muitas famílias que convivem com pessoas contaminadas pela impureza do mundo e distantes de Deus.

5 – A Palavra de Jesus
O que causou admiração no povo foi a autoridade de Jesus, tanto no seu ensinamento como na expulsão do mal. Disso surge uma questão: “quem é esse homem?” A resposta: Jesus é alguém que ensina com autoridade e tem poder sobre o mal, sobre a impureza da vida humana. Primeiro o ensinamento, a qualidade de quem ensina com autoridade e, por isso, pode ser chamado de Mestre. Alguém que merece ser admirado, ouvido e, acima de tudo seguido. Alguém que nos ajuda a viver no mundo sem nos deixar contaminar com as coisas do mundo. Alguém que, com seu ensinamento, é capaz de conduzir a vida ao encontro da fonte da vida, que está em Deus. Para quem se propõe seguir Jesus, como refletimos nos Domingos anteriores, o seu ensinamento deixa de ser teoria e se torna luz que orienta e conduz para o bem. É dessa forma que, pouco a pouco, vai se formando uma espiritualidade dentro de nós, quer dizer, um modo de pensar e de agir que impede a contaminação com as impurezas do mundo. Vivemos no mundo, fazemos tudo que todo mundo faz: participamos de festas, torcemos por um time de futebol, trabalhamos, rimos e choramos, discutimos e até brigamos... mas temos uma luz que não permite a contaminação com a impureza: o Evangelho. Quem se ilumina no Evangelho se aproxima de Deus e quem está perto de Deus está bem consigo mesmo, com os outros e com aquilo que faz. Vale a pena, portanto, repetir o refrão do salmo responsorial: “hoje, não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor”.

6. Certa vez, foi anunciado que o diabo deixaria o seu trabalho e por isso queria vender suas ferramentas. A data e o local da venda foram anunciados.

Quando chegou o dia, muita gente foi lá para ver que ferramentas o diabo usa. Logo que chegavam, viam as ferramentas expostas de uma maneira atraente, para despertar o interesse dos compradores. Estavam ali a malícia, o ódio, a luxúria, a inveja, o ciúme, a mentira, a fraude, a lisonja... Ali estavam todos os instrumentos do mal que o diabo usa. Cada ferramenta tinha o seu preço afixado.
Andando pela exposição, alguém encontrou, em um cantinho escuro, uma ferramenta. Ela tinha aparência inofensiva e apresentava sinais de ser bastante usada. O preço era altíssimo. O mais alto da exposição. E o nome da ferramenta: desânimo.
A pessoa procurou o diabo e perguntou por que aquela ferramenta era tão cara. Ele respondeu: “Porque ela me é muito útil. Os homens e as mulheres a aceitam facilmente, pensando que ela é inofensiva. Eles nem percebem que ela pertence a mim. E, depois que a acolhem, eu posso entrar dentro deles e agir à vontade, colocando as outras ferramentas que eu tenho para levar as pessoas para o inferno.
Cruz credo, não? Vamos tomar cuidado com o desânimo e nunca permitir que ele se instale em nós.
Deus está conosco, um amigo poderoso, zelando vinte e quatro horas pelo nosso bem e salvação. Vamos ouvi-lo e viver “fortes na fé, alegres na esperança e solícitos na caridade”.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ENVIOU-OS DOIS A DOIS.

Lc 10,1-9


Hoje celebramos a memória de dois bispos da Igreja primitiva: S. Timóteo e S. Tito. Eles eram companheiros do Apóstolo S. Paulo. Os nomes deles aparecem freqüentemente no livro dos Atos dos Apóstolos. Inclusive, S. Paulo escreveu duas cartas a Timóteo e uma a Tito.

O Evangelho, próprio da memória, narra o envio dos setenta e dois discípulos. Todos os líderes cristãos são os continuadores daqueles setenta e dois, inclusive S. Timóteo e S. Tito. Jesus os enviou dois a dois, não um por um. Isso porque “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles” (Mt 18,20). Portanto, é ele que vai agir através dos seus discípulos.

S. Tito é provavelmente natural de Antioquia. Foi fiel colaborador de S. Paulo em suas viagens apostólicas, e recebeu dele algumas missões importantes, como levar uma coleta para os cristãos de Jerusalém (2Cor 8,6) e ir a Corinto pacificar a Comunidade que estava em briga. Um dia ele foi com S. Paulo à ilha de Creta, e acabou sendo nomeado bispo de lá, onde ficou até a morte.

Quanto a Timóteo, o chamado dele está narrado em At 16,1-5: “Paulo foi para Derbe e Listra. Havia em Listra um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia que abraçara a fé, e de pai grego. Os irmãos de Listra e Icônio davam bom testemunho dele. Paulo quis então que Timóteo partisse com ele. Tomou-o consigo e circuncidou-o, por causa dos judeus que se encontravam nessas regiões, pois todos sabiam que o pai dele era grego. Percorrendo as cidades, Paulo e Timóteo... As Igrejas fortaleciam-se na fé e, de dia para dia, cresciam em número.” Está aí um exemplo bonito de como que Deus chama as pessoas. Daí para frente, Timóteo tornou-se não só companheiro de Paulo, mas amigo dele.

Nos Atos dos Apóstolos e nas cartas de S. Paulo há inúmeros elogios de Paulo a Timóteo. É interessante o que Paulo escreve a ele na 2Tm 1,3-5: “Dou graças a Deus – a quem sirvo de consciência pura, como aprendi de meus pais – quando, sem cessar, noite e dia, faço menção de ti em minhas orações. Lembro-me de tuas lágrimas. Sinto grande desejo de rever-te e, assim, encher-me de alegria. Recordo-me da fé sincera que há em ti, fé que habitou, primeiro, em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, que certamente habita também em ti”.

Esse texto mostra como que a fé passa de geração em geração, de pais para filhos. Dona Loide tinha muita fé, por isso a sua filha Eunice também tinha. E Timóteo tinha muita fé, porque herdou da sua mãe Eunice. A fé e os bons costumes vão passando de geração em geração. É interessante que S. Paulo, antes de se referir aos antepassados de Timóteo, lembra-se dos próprios pais: “...como aprendi de meus pais”. Em outras palavras, Paulo está dizendo que deve a seus pais a fé que tem. Nós sabemos que os pais de S. Paulo eram judeus fiéis e sinceros. Por isso Paulo deu cabeçadas, mas acabou acertando o caminho. Assim acontece hoje com os filhos de famílias boas. Alguns tropeçam, têm altos e baixos, mas o que acaba prevalecendo é a fé recebida em casa.

O mesmo acontece com a falta de fé e a vida em pecado. Também isso vai passando de pai ou mãe para filho... É o que diz o provérbio: “Tal pai tal filho”. Nós herdamos de nossos pais não só as características físicas e de temperamento, mas também as virtudes ou os defeitos. A família é a formadora das pessoas. É dentro dela que nasce o homem e a mulher de amanhã.

Quando Paulo estava velhinho, nomeou Timóteo bispo de Éfeso, cargo que exerceu até a morte.

Havia, certa vez, um menino de dez anos, que tinha muita vontade de bater um papo com seu pai, mas este nunca tinha tempo para ele.

O pai era psicólogo famoso e seu consultório estava sempre cheio.

Um dia, o garoto teve uma idéia: foi ao consultório e marcou uma consulta com o pai, mas pediu à secretária que não lhe contasse que era seu filho. No primeiro dia vago, a consulta ficou marcada para as quinze horas.

No dia e horário marcados, o menino apareceu. Quando saiu o cliente das catorze horas, o médico telefonou à secretária pedindo que mandasse o cliente das quinze horas.

Quando o pai viu o filho, enfiou a mão no bolso e disse, em tom repreensivo: “Fale logo quanto você quer, porque eu vou atender o cliente das quinze horas”. O garoto respondeu: o cliente das quinze horas sou eu!

Nesta hora, o pai, que se julgava um homem bom, caiu das nuvens. Entendeu o pecado que vinha cometendo, de não conversar com o filho em casa.

Sentou-se ao lado do menino, abraçou-o, os dois de emoção, depois disse: “Pode falar, filho, você tem uma hora para conversar com seu pai. E hoje à noite terá mais tempo. Não só hoje, mas todas as noites”. E os dois conversaram, como velhos amigos, sobre as bobagens de criança.

Para que os pais possam ter filhos que se tornem bons cidadãos e bons cristãos, e assim lhes dêem alegria no futuro, é necessário ter tempo para eles!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

IDE PELO MUNDO INTEIRO E ANUNCIAI O EVANGELHO.

Mc 16,15-18

Hoje nós celebramos com alegria a festa da Conversão de S. Paulo, Apóstolo. Como a festa caiu no domingo, ela seria omitida. Mas este ano é especial, porque estamos celebrando o Ano Paulino, que é a comemoração dos dois mil anos do nascimento de S. Paulo. Ele nasceu em Tarso, na Cilícia, que pertence à atual Turquia.

A primeira Leitura narra um discurso que Paulo fez no Templo de Jerusalém, diante de uma multidão agitada que queria matá-lo. Paulo começa dizendo: “Eu sou judeu, nascido na Cilícia, mas foi criado aqui nesta cidade. Como discípulo de Gamaliel, fui instruído em todo o rigor da Lei de nossos antepassados, tornando-me zeloso da causa de Deus, como acontece hoje convosco” (At 22,3). Em seguida, Paulo narra a sua conversão.
Mais tarde ele dirá: “Fui constituído arauto e apóstolo, mestre dos pagãos na fé e na verdade” (1Tm 2,7). Era assim que S. Paulo entendia a sua vocação. Hoje nós entendemos que ele era mestre não só para a sua geração, mas para todas as gerações posteriores, é nosso mestre.

Nós não estamos, neste Jubilei, festejando alguém do passado, em sim um irmão atual, presente todos os dias em nossa via e nos orientando.

Quem é S. Paulo? O que ele me fala? Vejamos alguns textos: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20). Tudo o que Paulo faz, parte desta sua experiência de ser amado por Jesus de um modo pessoal; parte da consciência que Cristo morreu por amor a ele, Paulo. Portanto a sua fé não é uma teoria, mas uma experiência, uma experiência de amor.

Paulo é um homem forte e combativo, que sabe manejar a espada da palavra. “Apesar de ter sofrido maus tratos e ultrajes em Filipos... o nosso Deus nos deu coragem e segurança para vos anunciar o seu Evangelho... Aliás, sabeis muito bem que nunca bajulamos ninguém, nem fomos movidos por alguma ambição disfarçada” (1Ts 2,2.5). Para ele, a verdade era por demais grande e sagrada, e não a sacrificava por nada. A verdade que ele descobriu no encontro com o Ressuscitado merecia, por ela, toda luta, toda perseguição, todo sofrimento. Mas o que mais o motivava era a certeza de ser amado por Jesus.
S. Paulo era um homem livre. Para ele, o que vale é o amor. “Ama, e faze o que queres” (Santo Agostinho). Quem ama a Cristo como Paulo amava, pode realmente fazer o que quiser, porque o amor liga a nossa vontade à vontade de Cristo.

No caminho de Damasco, Cristo fala a Paulo: “Por que me persegues?” Paulo pergunta: “Quem és tu, Senhor?” Cristo responde: “Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem tu estás perseguindo” (At 9,7-8). Cristo se identifica com a Igreja. Ele se tornou carne, e a Igreja continua sendo a sua carne. A partir dessa experiência, Paulo vê a Igreja como Corpo de Cristo. Servir à Igreja é servir a Cristo, entende Paulo.

Concluamos com uma frase de Paulo a Timóteo, que vale para nós: “Não te envergonhes de testemunhar a favor de Nosso Senhor Jesus Cristo... pois Deus nos chamou com uma vocação santa, não em atenção às nossas obras, mas por causa do plano salvífico e da sua graça, que nos foi dada no Cristo Jesus” (2Tm 1,8-9).

Uma das qualidades mais admiráveis de S. Paulo é a garra com que ele assumia as coisas. Quando, seguindo as idéias do seu professor Gamaliel, achava que o cristianismo era um mal, ele o perseguiu de corpo e alma. Quando, iluminado por Cristo, percebeu que o cristianismo era um bem, dedicou-se de corpo e alma a esta nova religião. O mundo precisa de pessoas assim, que não ficam apenas em teorias, mas se dedicam a transformar o mundo, de acordo com as convicções que têm.

Nós agradecemos a Deus ter chamado Paulo e tê-lo feito Apóstolo dos pagãos e nosso Mestre. E lhe pedimos que nos ajude a amar muito a Cristo e ser suas testemunhas.

Havia, certa vez, na periferia de uma cidade grande, uma Comunidade cristã que, por não ter onde se reunir, fazia as celebrações no centro comunitário do bairro, que pertencia à prefeitura.

A assistente social da prefeitura procurou a líder da Comunidade e lhe pediu que no próximo domingo avisasse o povo que aquela seria a última celebração no centro comunitário, pois dali para frente estava proibido. A líder, angustiada, passou a rezar muito pedindo a Deus que a iluminasse como dar esse aviso.

Antes de iniciar a celebração, ela teve uma idéia. Conversou com a equipe coordenadora e todos concordaram. Então, no final da celebração, ela deu o seguinte aviso:

“A assistente social nos proibiu de reunir aqui. Nós não vemos motivo para isso, pois no domingo de manhã não há atividades no centro comunitário. Amanhã, às oito horas da manhã, ela estará aqui. Nós, a coordenação da Comunidade, convidamos alguns de vocês para virem aqui a fim de conversarmos com ela.” Três pessoas levantaram a mão.
Um senhor de barba e bigode disse: “Se não mudar de idéia, daqui mesmo iremos à prefeitura conversar com o sr. Prefeito”.

Mas no dia seguinte, quando a assistente social chegou ao centro comunitário, estavam ali reunidas perto de oitenta pessoas. A maioria ela conhecia, pois eram mães e pais de crianças que freqüentavam o centro. Havia inclusive um alto-falante portátil já preparado para animar a caminhada até a prefeitura.

Ao ver aquele povão e saber do plano, a assistente social tremia como vara verde. Ela pegou o microfone e disse: “Não! Não há problema! Podem continuar usando o centro comunitário para as celebrações. Fica o dito por não dito”. Evidentemente, ela viu o seu emprego ameaçado, caso aquele povo fosse até a prefeitura.

S. Paulo era um líder cristão, que assumia a dianteira em todas as causas a favor de Cristo e da Igreja. Que ele interceda por nós!

S. Paulo tem um texto belíssimo sobre Nossa Senhora: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher... e assim todos nós recebemos a dignidade de Deus” (Gal 4,4-5). Nós agradecemos também a Maria ter assumido ser Mãe de Jesus, dando-nos este presente de sermos filhos e filhas de Deus.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Homilia do 3º Domingo Comum

1 – Uma bomba para destruir tudo
Num dia desses, conversando sobre a situação social e política com alguns amigos, um deles disse: “sabe o que precisaria acontecer? Jogar uma bomba em Brasília e destruir tudo.” Lembrei-me desse amigo enquanto preparava a reflexão desse Domingo. Ele assumira a mesma mentalidade de Jonas, quando foi enviado a Nínive. Ao se deparar com a situação de corrupção, de imoralidade, de enganação e injustiça que havia na cidade, ele deduziu: a única coisa que Deus pode fazer com essa gente é destruir tudo. Hoje, ouvimos a proclamação da profecia de Jonas com acordes mais suaves, mas a sua intenção original era outra. No fundo, ele ardia de vontade para que Níneve fosse destruída. Tanto assim que, se você continuar a ler o texto que ouvimos hoje, encontrará Jonas magoado com Deus porque não destruiu a cidade. Eu penso que, as vezes, a mentalidade de Jonas é mais forte em nós que a mentalidade divina. Diante de certas situações difíceis da vida, preferimos a destruição que a salvação. Um exemplo apenas: quantos casais poderiam refazer a família depois de uma crise, mas preferiram a destruição e partir para outra vida com mágoas que nunca cicatrizam.

2 – Jesus, um profeta diferente
Jesus é um profeta bem diferente de Jonas. Não é tinhoso e nem se magoa com Deus. Ao contrário: é concorde com a proposta divina. Ele mesmo diz que não veio até nós para condenar o mundo, mas para salvá-lo (Jo 3,17). Por isso, não estamos sendo nada cristãos quando buscamos na violência e na destruição o caminho para resolver nossos problemas e dificuldades. Existem coisas que precisam ser recomeçadas e existem coisas que precisam ser consertadas, como pescadores que consertam as redes, na barca da vida. Na vida social acontece a mesma coisa. Não é cristão compartilhar propostas que destroem vidas, que facilitam a destruição de famílias, que incentivem o uso social do álcool, por exemplo, porta de drogas mais pesadas, que resultará na destruição de tantas pessoas. Quando Jesus passa, ele convida para ser pescadores de homens, para ser pescadores de vidas humanas, para pescar a humanidade perdida em tanta gente e evitar a destruição da vida pela corrupção, pela violência, pela enganação dos outros, pela exploração dos mais pobres, pelo uso de drogas e tantas coisas mais.

3 – O símbolo da rede
Isso vale também para a nossa vida pessoal. Não se pode admitir que alguém destrua a própria vida dizendo: “a vida é minha e eu faço dela o que eu quero”. A vida é sua, é verdade, mas nenhuma vida se realiza na destruição. Considere o comportamento de quem faz dos fins de semana uma bebedeira só. Entram num processo de destruição da própria vida e isso começa a reclamar dentro deles, com comportamentos tipicamente anti-sociais: relacionamentos difíceis dentro de casa, brigas, gritaria, enfraquecimento intelectual, incapacidade de perspectivas futuras... ora, quando isso começa a aparecer na vida, o resultado é a revolta. É o processo de quem não produz mais vida; ao contrário, a destrói. E quando a vida dentro da gente percebe que está sendo destruída, que está sendo matada, ela grita, protesta, pede socorro. Quando Jesus chamou aqueles dois que estavam consertando as redes, entendemos que a proposta de Jesus é chamar pessoas que ajudem a consertar a vida, isto é, a valorizar a própria vida e a vida dos outros. Somos chamados para pescar vidas e não destruí-la.

4 – Proposta de mudar de vida
É com esse olhar de vocacionados e vocacionadas da promoção da vida, da valorização da vida, prontos a combater tudo que seja motivo de destruição da vida, que entendemos o convite de Jonas e de Jesus apelando para a conversão. É claro que não basta conhecer o anúncio da conversão; é preciso algo mais que isso: é preciso deixar as redes e a barca para caminhar na mesma estrada de Jesus. É preciso acreditar no convite e se dispor a caminhar ouvindo Jesus. A destruição de uma sociedade como a de Níneve não é castigo de Deus, mas é o resultado evidente do desrespeito à vida. O apego ao mundo, criticado por Paulo, na 2ª leitura — tão fortemente sentido em nossos dias — é um sentimento que se transforma em caminho auto-destruidor da própria existência e impede uma convivência sadia e fraterna com os outros. Por isso, quando Jesus chama para ser pescadores de homens, está propondo uma missão aos seus discípulos e discípulas: pescar quem se perdeu no mar do mundo e recuperá-lo para a vida, pois assim encontrará o caminho para Deus. Amém!

OS PARENTES DE JESUS DIZIAM QUE ELE ESTAVA FORA DE SI.

Mc 3,20-21

Este Evangelho narra a incompreensão dos próprios parentes de Jesus a respeito dele. “Nem os seus irmãos (primos e parentes) acreditavam nele” (Jo 7,5). A expressão “fora de si” significa o que dizemos hoje: “perdeu a cabeça”.

Jesus não perdeu a cabeça, mas que suas idéias eram muito diferentes da mentalidade do seu povo eram. Basta ver o discurso das bem-aventuranças, em que ele chama de felizes os pobres e os perseguidos por causa do Reino de Deus; o pedido para darmos a outra face para quem nos esbofeteia; o pedido de perdoarmos os nossos inimigos; o sentido que dá para a autoridade: é serviço e não poder; o pedido para darmos também a túnica a quem nos roupa ou toma a capa... Tudo isso, frente à mentalidade do mundo, não só daquele tempo mas também de hoje, é loucura.

A incompreensão de que Jesus foi vítima, até por parte de seus discípulos, ilumina-nos sobre a situação dos cristãos e da Igreja hoje. Muitos não a chamam de “louca”, mas quase. Logo no versículo seguinte, Marcos fala: “Os escribas vindos de Jerusalém, diziam que Jesus estava endemoninhado”.

Na História da Igreja, todos os cristãos e cristãs que levaram a sério o Evangelho foram taxados de loucos. Por exemplo, S. Francisco, que foi chamado de louco por seu próprio pai, rico comerciante.

Como os parentes de Jesus, também nós queremos reduzir aos limites do “razoável” a chama abrasadora do Evangelho e o escândalo da cruz. Se os santos tivessem pensado em termos “razoáveis”, não teriam sido canonizados. Se nós não arriscarmos as nossas seguranças “razoáveis”, não iremos longe no seguimento de Jesus. Porque o “razoável”, aquilo que todo mundo faz, não passa de mesquinha mediocridade.

Para seguirmos bem a Cristo, precisamos nos deixar conduzir pelo amor, o qual é criativo, é livre, “desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo. O amor jamais acabará” (1Cor 13,7-8). Conhecer ou desconhecer Cristo é questão de fé ou incredulidade, de amor ou desamor. A fé e o amor são dons de Deus que ultrapassam o mundo. “A pregação da cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que são salvos, para nós, ela é força de Deus. Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e confundirei a inteligência dos inteligentes” (1Cor 1,18-19).

Certa vez, numa comunidade religiosa masculina, um irmão ficou com dó do padre superior que estava com uma gripe muito forte. Então resolveu fazer um chá para o padre, que era bastante nervoso.

Ele terminou de preparar o chá às 21:30 horas. Colocou numa bandeja o bule com o chá e uma xícara, subiu a escada e bateu na porta do quarto do superior. Este já veio súper nervoso. Abriu a porta e o irmão lhe disse: “Eu vi que o senhor não estava bem de saúde e preparei um chá. Está aqui”.

Mas o superior naquele momento descarregou todo o seu nervosismo: “Eu já estava dormindo e você vem me acordar! Bem agora que estou doente. Onde já se viu!...” Quando ele fez uma pausa, o irmão perguntou: “Então o senhor não vai querer o chá?”
Batendo o pé, o padre respondeu: “Não quero saber de chá não...” Calmamente, o irmão lhe disse: “Então, padre, por favor, segure a bandeja para que eu possa tomar o chá!”
O superior não teve outra saída senão segurar a bandeja, enquanto o irmão, com um sorriso, tomava o chá na frente dele.

“Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10,3). O cristão às vezes toma atitudes que parecem loucura diante do mundo pecador, mas não são nada mais que vivência do Evangelho.

Maria Santíssima tomou uma atitude bastante corajosa e incomum, ficando ao pé da cruz junto do Filho. Que ela nos ajude, quando estivermos sendo atacados e criticados por seguir o Evangelho.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

CHAMOU OS QUE ELE QUIS, PARA QUE FICASSEM COM ELE E PARA ENVIÁ-LOS.

Mc 3,13-19

Este Evangelho narra o chamado dos doze Apóstolos, palavra de origem grega que significa “enviados”. O número doze evoca as doze tribos de Israel.

O texto começa dizendo que Jesus “subiu ao monte”. É uma expressão com reminiscências bíblicas muito marcantes. Os montes da Bíblia, mais que acidente topográfico, são lugares de teofania, isto é, de presença, revelação e ação de Deus. Por exemplo, o monte Sinai, o monte Horeb, o monte das bem-aventuranças, o da transfiguração... Este citado no Evangelho de hoje se tornou o monte da investidura apostólica. A intenção de Jesus não foi criar um grupo separado do povo, mas guias para a Igreja, o novo Povo de Deus, que ele começava a fundar.

“Chamou os que ele quis.” A vocação é de iniciativa divina. Por que Deus chama a este e não aquele ou aquela, é mistério que não entendemos. O certo é que, para uma missão ou outra, todos somos chamados. E a gente só é feliz, vivendo na vocação que Deus nos deu.
“Chamou-os para que ficassem com ele e para enviá-los.” Primeiro, nós ficamos junto de Jesus, a fim de aprender dele a Boa Nova do Reino de Deus. Aprender e viver. Depois é que somos enviados. Foi o que aconteceu com esses Apóstolos. Só mais tarde é que foram enviados a pregar. E mesmo depois de enviados, Jesus sempre os chamava para um descanso, confraternização e oração juntos. Se não fazemos isso, nós nos esvaziamos; ninguém dá o que não tem. “Como é bom, como é agradável os irmãos viverem juntos!” (Sl 133,1).

“Deu-lhes autoridade para expulsar demônios.” Ao enviá-los, Jesus os capacitou para a missão, dando-lhes todos os recursos e condições necessárias para cumprirem bem a tarefa. Na lista dos Apóstolos, aparece em primeiro lugar Pedro, que é o chefe, o centro de unidade do grupo e de toda a Igreja. Judas Iscariotes aparece em último lugar porque foi o traidor. É importante pensar bem, antes de assumir uma vocação, porque precisamos perseverar até a morte, como fizeram os onze Apóstolos.

No grupo dos Apóstolos havia grande diversidade de caracteres, de temperamentos, de culturas, de mentalidades, de origem... São as diferenças que fazem a riqueza de um grupo. A convivência se torna, às vezes, difícil, mas é preferível.

Consta-nos que quatro deles eram pescadores: Pedro e André, Tiago e João. Mateus era funcionário público. Simão, o zelota, foi membro da resistência aos romanos. Filipe era um judeu aberto. Tiago era, ao contrário, muito conservador. E os outros eram gente simples e desconhecida do povo. Nenhum foi influente na sociedade nem intelectual. Como se vê, para realizar a sua obra, Jesus preferiu gente que não tinha peso social, para que se manifestasse melhor a ação e a força salvadora de Deus.

O Pe. Pedro Donders viveu no Séc. XIX no Suriname. Ele era diretor espiritual de um leprosário chamado Batávia, uma vila que abrigava quatrocentos doentes. Donders conhecia a todos e era amigo deles.

Um dia, o governo mandou que fossem retiradas da vila todas as crianças, para que não fossem contaminadas.

Os pais protestaram. Em toda parte, só se ouvia gritos e choro, e impediam a saída dos seus filhos. Nem a polícia deu conta de retirá-los.

Pediram a ajuda do Padre Donders. Ele reuniu os pais rebeldes e mostrou-lhes que se tratava da saúde dos seus filhos. Depois, com bondade e acolhimento, procurou ouvir cada um, resolvendo as dúvidas e esclarecendo. Resultado: o povo caiu em si, acalmou-se e permitiu a saída das crianças.

Sobrou apenas um senhor que havia fugido para o mato, prometendo se matar, se levassem o seu filho. Donders foi atrás dele e o convenceu. O homem voltou e entregou-lhe seu filho.

Quando Deus chama uma pessoa para determinada missão, capacita-a e dá-lhe todas as condições para exercer bem a sua vocação.

Quando Jesus subiu para o céu, os Apóstolos se sentiram muito confusos e até meio perdidos. Maria Santíssima foi ficar com eles, aguardando a vinda do Espírito Santo (Cf At 1,14). Que Maria nos ajude também a vivermos a nossa vocação, especialmente nas horas difíceis.