sábado, 21 de janeiro de 2012

Homilia do 3º Domingo Comum

1 – Uma bomba para destruir tudo
Num dia desses, conversando sobre a situação social e política com alguns amigos, um deles disse: “sabe o que precisaria acontecer? Jogar uma bomba em Brasília e destruir tudo.” Lembrei-me desse amigo enquanto preparava a reflexão desse Domingo. Ele assumira a mesma mentalidade de Jonas, quando foi enviado a Nínive. Ao se deparar com a situação de corrupção, de imoralidade, de enganação e injustiça que havia na cidade, ele deduziu: a única coisa que Deus pode fazer com essa gente é destruir tudo. Hoje, ouvimos a proclamação da profecia de Jonas com acordes mais suaves, mas a sua intenção original era outra. No fundo, ele ardia de vontade para que Níneve fosse destruída. Tanto assim que, se você continuar a ler o texto que ouvimos hoje, encontrará Jonas magoado com Deus porque não destruiu a cidade. Eu penso que, as vezes, a mentalidade de Jonas é mais forte em nós que a mentalidade divina. Diante de certas situações difíceis da vida, preferimos a destruição que a salvação. Um exemplo apenas: quantos casais poderiam refazer a família depois de uma crise, mas preferiram a destruição e partir para outra vida com mágoas que nunca cicatrizam.

2 – Jesus, um profeta diferente
Jesus é um profeta bem diferente de Jonas. Não é tinhoso e nem se magoa com Deus. Ao contrário: é concorde com a proposta divina. Ele mesmo diz que não veio até nós para condenar o mundo, mas para salvá-lo (Jo 3,17). Por isso, não estamos sendo nada cristãos quando buscamos na violência e na destruição o caminho para resolver nossos problemas e dificuldades. Existem coisas que precisam ser recomeçadas e existem coisas que precisam ser consertadas, como pescadores que consertam as redes, na barca da vida. Na vida social acontece a mesma coisa. Não é cristão compartilhar propostas que destroem vidas, que facilitam a destruição de famílias, que incentivem o uso social do álcool, por exemplo, porta de drogas mais pesadas, que resultará na destruição de tantas pessoas. Quando Jesus passa, ele convida para ser pescadores de homens, para ser pescadores de vidas humanas, para pescar a humanidade perdida em tanta gente e evitar a destruição da vida pela corrupção, pela violência, pela enganação dos outros, pela exploração dos mais pobres, pelo uso de drogas e tantas coisas mais.

3 – O símbolo da rede
Isso vale também para a nossa vida pessoal. Não se pode admitir que alguém destrua a própria vida dizendo: “a vida é minha e eu faço dela o que eu quero”. A vida é sua, é verdade, mas nenhuma vida se realiza na destruição. Considere o comportamento de quem faz dos fins de semana uma bebedeira só. Entram num processo de destruição da própria vida e isso começa a reclamar dentro deles, com comportamentos tipicamente anti-sociais: relacionamentos difíceis dentro de casa, brigas, gritaria, enfraquecimento intelectual, incapacidade de perspectivas futuras... ora, quando isso começa a aparecer na vida, o resultado é a revolta. É o processo de quem não produz mais vida; ao contrário, a destrói. E quando a vida dentro da gente percebe que está sendo destruída, que está sendo matada, ela grita, protesta, pede socorro. Quando Jesus chamou aqueles dois que estavam consertando as redes, entendemos que a proposta de Jesus é chamar pessoas que ajudem a consertar a vida, isto é, a valorizar a própria vida e a vida dos outros. Somos chamados para pescar vidas e não destruí-la.

4 – Proposta de mudar de vida
É com esse olhar de vocacionados e vocacionadas da promoção da vida, da valorização da vida, prontos a combater tudo que seja motivo de destruição da vida, que entendemos o convite de Jonas e de Jesus apelando para a conversão. É claro que não basta conhecer o anúncio da conversão; é preciso algo mais que isso: é preciso deixar as redes e a barca para caminhar na mesma estrada de Jesus. É preciso acreditar no convite e se dispor a caminhar ouvindo Jesus. A destruição de uma sociedade como a de Níneve não é castigo de Deus, mas é o resultado evidente do desrespeito à vida. O apego ao mundo, criticado por Paulo, na 2ª leitura — tão fortemente sentido em nossos dias — é um sentimento que se transforma em caminho auto-destruidor da própria existência e impede uma convivência sadia e fraterna com os outros. Por isso, quando Jesus chama para ser pescadores de homens, está propondo uma missão aos seus discípulos e discípulas: pescar quem se perdeu no mar do mundo e recuperá-lo para a vida, pois assim encontrará o caminho para Deus. Amém!

Nenhum comentário:

Postar um comentário