Jo 1, 35-42
1 – Encontro com o Senhor
O Evangelho de João, que acabamos de ouvir, apresenta-se com uma estrutura interessante, que merece abrir a reflexão desse Domingo. Começa com o prólogo, com aquele belo poema que diz: “no princípio era a Palavra, e a Palavra estava em Deus e a Palavra era Deus”. Depois, João irá dizer que a “Palavra se encarnou”, a Palavra se fez gente e nasceu da Virgem Maria, como celebramos no Natal e, no Domingo passado, celebrávamos na Epifania. Logo em seguida, temos o texto que ouvimos hoje, narrando que Jesus passa... a Palavra de Deus passa numa outra estrada. Quem conhece a Palavra de Deus — como é o caso de Eli, na 1ª leitura, e João Batista, no Evangelho — orienta a entrar na estrada para encontrar-se com essa Palavra. O interessante é que a Palavra de Deus não é algo abstrato, mas que passa e pode ser seguida. A Palavra de Deus — como mostra o espaço simbólico de nossa celebração, e como participamos do rito de aclamação do Evangelho — é companheira de caminhada, na vida pessoal.
2 – Ouvido para ouvir e olhos para ver
Outro detalhe que temos, na Liturgia da Palavra desse Domingo, é a presença de dois sentidos. Na 1ª leitura evidencia-se o ouvido. Samuel dorme e o Senhor lhe desperta o ouvido, chamando-o pelo nome. É o que aconteceu na vida de muitos santos que se dispuseram a entrar na estrada do Evangelho depois de ouvir a Palavra de Deus. É o que aconteceu na vida de muitas pessoas que se converteram ouvindo alguma pregação, ouvindo a poesia de alguma música e se decidiram por Jesus. Como cantava o salmista, são pessoas que guardaram a Palavra de Deus em seus corações. No Evangelho, temos os olhos. João Batista vê Jesus e o apresenta para dois de seus discípulos que, olham, vêem e se colocam na mesma estrada. Ver Jesus passar, hoje em dia, é ver o Evangelho acontecendo diante de nossos olhos. Isso é bem mais difícil que ouvir a Palavra, porque nem todos fomos educados, em nossas catequeses, para ver o Evangelho passando diante de nós. Mas, ele passa. Pessoas como a Beata Dulce da Bahia, Santo Antonio Galvão (Frei Galvão), Santa Paulina... para citar somente santos e beatos brasileiros, viram Jesus passando diante de seus olhos e se colocaram na sua estrada.
3 – Chamados pelos sentidos
Faço questão de destacar os sentidos do ouvido e dos olhos para tirar de nós a idéia de que a experiência com Deus acontece em momentos extraordinários, fora do alcance de nossos sentidos. Isso aprendemos da própria Palavra de Deus, que ouvimos. O final da 1ª leitura relata que Samuel ouvia “e não deixava cair por terra nenhuma de suas palavras”. Ouvir, meditar, ruminar, transformar a Palavra em atitude. O Evangelho relata a vocação dos primeiros discípulos de Jesus acolhendo o convite para passar com ele um dia em sua casa. Não relata o que ali conversaram, mas a alegria que transparece em André, ao contar a Pedro o encontro com Jesus, deixa evidente que ouviram mais que falaram. Assim nasce a vocação ao discipulado. É assim que alguém deixa sua estrada e entra na estrada de Jesus para OUVIR o que ele diz. Aqui está o caminho que nos coloca na estrada de Jesus, que abre nossos olhos para ver Jesus passando. As vezes ele passa escondido, como estava na mochila que trouxe o Evangeliário para ser proclamado, e alguém precisa tirá-lo para mostrar onde está. Mas, ele passa. Passa no meio do povo e quem conhece sua Palavra o reconhece no meio do povo.
4 – Tornar-se discípulo de Jesus
O texto evangélico que acabamos de proclamar em nossa assembléia tem uma finalidade muito clara: apresentar Jesus caminhando em nossas estradas. Como disse, ele continua andando entre nós e falando através de sua Palavra. O primeiro motivo para seguir Jesus é saber se ele é necessário para minha vida. Se ele é importante para minha existência. Não falo da necessidade de ter Jesus para fazer pedidos, mas de tê-lo como “caminho”, como voz que fala em mim, que orienta meu modo de viver. Existe uma pergunta atrevida, mas necessária e pertinente: — eu tenho necessidade de Jesus? Eu tenho necessidade que Jesus seja o Mestre de minha vida? Se você não sentir essa necessidade, muito possivelmente será um religioso que reza, que faz promessas e pedidos a Jesus, mas ainda não é aquele cristão que Jesus gostaria que fosse, porque ainda não se tornou discípulo de Jesus. Pode até viver na Igreja, mas o Evangelho não vive dentro de ti. Pensemos bastante sobre isso, durante essa semana e consideremos sinceramente se o Evangelho vive dentro de cada um de nós e se Jesus é nosso Mestre.
5 – Dia do Migrante
A Igreja estabelece para esse Domingo o Dia do Migrante e do Refugiado com o tema: “O migrante e a nova evangelização”. A mensagem do Papa para esse dia (que poderá ser lida na internet), acentua duas coisas importantes. O acolhimento do migrante como um irmão e irmã que vive ou viverá entre nós. Encontro que seja fraterno e não de discriminação. Da parte do migrante, a missão de ser evangelizador, de testemunhar o Evangelho, através da fraternidade, onde está sendo acolhido. Rezemos pelos migrantes, pelos refugiados políticos e façamos o possível para acolhe-los entre nós como um irmão e irmã, respeitando a dor que sente por deixar sua terra e precisar iniciar vida nova em ambiente desconhecido. Nosso apoio e nossa solidariedade poderá aliviar sua dor e o ajudará a sentir-se mais corajoso em vista do futuro. Amém!
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